Chies, Adriana2022-07-202022-07-202012CHIES, Adriana. Quem gosta de apanhar?: uma perspectiva psicanalítica da violência de gênero. Revista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, v. 1, n. 6, p. 359-384, 2012. Disponível em: https://www.mpdft.mp.br/jspui/handle/123456789/654. Acesso em: 20 jul. 2022.https://www.mpdft.mp.br/jspui/handle/123456789/654Desde a teoria do trauma freudiano, identifica-se que em muitas situações de violência pautadas pelas questões de gênero, a pessoa agredida sofreu um trauma psíquico. Diferenciando-se o trauma psíquico da experiência traumática em geral, propõe-se pensar a situação de violência de gênero sob a perspectiva do estabelecimento de uma neurose traumática. Observando-se naquelas situações o quadro típico de uma neurose traumática, entende-se sua importância no mantenimento da relação com o agressor e do chamado “ciclo de violência”. Evidenciam-se, assim, os mecanismos psíquicos e as posições subjetivas que se estabelecem ou que predispõem nas relações de gênero à violência. Sem ignorar a complexidade da situação de violência, ou colocar em segundo plano outros fatores, socioeconômicos e culturais, busca-se trazer à luz as determinações subjetivas da manutenção da situação de violência. Desse modo, amplia-se nossa compreensão de fatores que dificultam sobremaneira a saída da situação de sofrimento, assim como pode-se esperar maior esclarecimento sobre as condições facilitadoras para a saída daquela condição. Finalmente, a identificação da ocorrência do trauma na situação de violência reafirma que a relação de violência contra a mulher supõe uma cultura de gênero específica e uma lógica de dominação, muitas vezes silenciosa que, assim como no íntimo dos relacionamentos violentos, está presente na linguagem cotidiana e nos diferentes espaços sociais.From the perspective of Freud’s theory of trauma, a number of people who are subject to violence stemming from gender differences may be considered to have undergone a psychic trauma. Gender violence situations can be viewed as triggering a traumatic neurosis, provided that a distinction is made between psychic trauma and traumatic experience. By identifying the typical features of a traumatic neurosis in such situations, the continuation of the relationship with the aggressor and the so-called “violence cycle” can be understood. Thus, psychic mechanisms and subjective positions that are created by or predispose to violence in gender relations can be highlighted. Without ignoring the complexities of the violence situation or bracketing cultural and socio-economic issues, subjective determinations of the continuation of the violence situation are brought to light. Thereby a larger understanding obtains of the factors that make the abandonment of a distracting situation exceedingly difficult. Conversely, we can hope for a larger understanding of the conditions that make the abandonment of such situations more likely to happen. Finally, identifying the occurrence of a trauma in the violence situation reasserts that violence against women supposes a specific gender culture and a logic of domination which is frequently muted and is as present in the intimacy of violent relationships as in everyday language and social spaces.Português© MPDFT - Todos os direitos reservados. Qualquer parte desta publicação poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.Violência contra a mulher, Brasil.Direito da mulher a uma vida livre de violência, Brasil.Psicanálise, Brasil.Quem gosta de apanhar?: uma perspectiva psicanalítica da violência de gêneroWho likes being spanking?: a psychoanalytical outlook on gender violenceArtigo